Drugstore – The act/Sharp objects + Suspiria (1977/2018)

A Drugstore surgiu no Loz Engelis como uma forma rápida e simples de mostrar a você, leitor, produtos culturais interessantes. Desta vez a coluna vem no formado dobradinha, duas séries, dois filmes, cada dupla casada entre si. Veja as edições anteriores neste link e também aqui.




TV – The act e Sharp objects

Certa vez li uma matéria do Buzzfeed, escrita por Michelle Dean, que começava assim: “Bang, bang, a vadia está morta”. Nunca esqueci. Maluquice mesmo era saber o contexto. Fazia parte de uma mensagem publicada no Facebook da família Blanchard. E quem eram eles? A menina Gypsy Rose tinha inúmeras questões de saúde. Com aparência de criança, era cuidada de perto pela mãe, a incansável guerreira Dee Dee. O mundo se compadeceu das duas, ajudando-as inclusive financeiramente.





Eis que Gypsy arruma um namorado na internet, ele mata a mãe dela e os dois fogem. Capturados logo depois, descobriu-se a farsa: ela não era doente, não precisava de cadeira de rodas, fruto do que sofria Dee Dee, um transtorno horrível, porém fascinante, chamado “Síndrome de Munchausen por procuração”, quando a pessoa deixa outra enferma para tornar-se indispensável e, assim, amar e ser amada.


A matéria sobre essa trama escabrosa virou documentário, Mommy dead and dearest, e agora série do Hulu. Em The act, planejada como uma antologia de casos reais, à exemplo de American Crime Story, Patricia Arquette vive Dee Dee e Joey King interpreta Gypsy (tem a Chloë Sevigny também, que eu amo). Mesmo sabendo o que acontece, é impossível não se impressionar com esse enredo tão louco que só poderia ser mesmo vida real.




Mudando de assunto, pero no mucho. Quando assisti ao filme Garota exemplar, fiquei curioso com relação a Gillian Flynn, autora da obra original. Por isso, me enveredei por Objetos cortantes, também dela, ainda no papel. Gostei, achei normal, mas algo incompleto, quase como se tivesse lido um primeiro manuscrito. Em Sharp objects, minissérie da HBO, já consegui ver alguma graça na história de Camille Preaker (vivida por Amy Adams, a quem eu desejo apenas o melhor na vida), jornalista problemática que volta à terra natal para escrever sobre o assassinato de duas adolescentes.





Partindo do pressuposto Mamãezinha querida assim como The act, a protagonista enfrenta o próprio passado e tenta acertar as contas com a cruel genitora (Patricia Clarkson, que eu adoro em comédias e como pessoa física, mas que para mim não acertou desta vez, tal e qual no papel vivido em algumas temporadas de House of cards, a senhora doida do episódio do Chapolin com a casa assombrada, “Já tomou café?”). Com direção de Jean-Marc Vallée, o mesmo da primeira temporada de Big little lies, esses oito episódios são esteticamente muito interessantes, talvez mais até do que o conteúdo, algo que eu vou abordar… bem, agora.




Cinema – Suspiria 1977/2018


Quando bati os olhos no primeiro teaser de Suspíria – A dança do medo, de cara me apaixonei por aquele visual. Consegui assistí-lo esses dias, está em cartaz no Amazon Prime Video, e não me decepcionei. Antes, há uns meses, vi o original, de 1977, dirigido por Dario Argento.


Agora a experiência está completa com duas versões bem diferentes da mesma história. Me ajudou também um vídeo do YouTube, tecendo comparações entre elas, bem elucidativo. Em Remaking Suspiria: an homage to a feeling, do The Take, a teoria é de que, em ambas as películas, o conteúdo não é tão importante quanto a forma como ele é apresentado. E por isso mesmo são aulas de cinema.








O enredo não tem muito mistério per se. Americana desembarca em Berlim para estudar em consagrada companhia de dança. Ela começa, após alguns fatos misteriosos, a desconfiar de que algo de sinistro acontece por ali. No Suspiria de 77, o clima é kitsch, com cores berrantes na fotografia, pontuadas por atuações dubladas que nem novela mexicana, o que dá um toque meio cômico às cenas. O terror tem sangue vermelho, mais vivo do que qualquer tinta Suvinil.


Já o de 2018 é o completo oposto, cinza, soturno, e, graças a Deus, com melhores atuações, em destaque a de Tilda Swinton, a professora Helena do Carrossel maligno. Também está ambientado na Berlim de 1977, mas tece reflexos mais diretos com os fatos da história alemã daquela época. Um fato pode passar despercebido por alguns, mas aqui eu conto. Jessica Harper, a protagonista do original, aparece nesta nova versão em uma pontinha. Prova de que a história, de uma maneira ou de outra, sempre se repete.














Crédito das imagens: Adoro Cinema, Rolling Stone, Etsy e IMDb.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.