Uma mente brilhante



Era 2001. Tinha 15 anos e estava louco para assistir Amnésia no cinema. Já tinha lido tudo sobre a fita nas revistas SET e afins, mas tinha um probleminha a sanar: a censura. Junto com uma amiga, armei um esquema de troca e “aluguel” de carteirinhas de estudante. Falsidade ideológica versão teen. Entramos na sala com aquele medo surreal de que uma equipe da polícia federal fosse invadir a sala e nos prender pela travessura. Não sei se pela tensão adquirida, mas acabei achando o filme genial. Eu, cinéfilo de carteirinha e com uma porrada de filmes no currículo (É sério), nunca tinha visto nada parecido. O filme era todo ao contrário. Não linear. Confuso. De querer ver e rever. Na época, o tal Christopher Nolan que dirigiu a produção era um Zé Ninguém. Quase dez anos depois e já figura cativa no mainstream devido ao sucesso da nova série Batman (Begins e O cavaleiro das trevas), Nolan dinamitou minha cabeça mais uma vez com sua mais recente produção, A origem, em cartaz nos cinemas desde a última sexta.





Olha, não vou te enganar, colega, mas a piração do enredo é daquelas bem mirabolantes. O personagem de Leonardo DiCaprio, Cobb, trabalha num negócio escuso ligado aos mistérios do subconsciente. Junto de sua equipe, ele entra nos sonhos dos outros para conseguir segredos e lembranças. A grande missão de Cobb em A origem, no entanto, é fazer o caminho contrário. Ao invés de roubar algo da mente de alguém ele precisa inserir uma ideia. A trupe que acompanha DiCaprio nessa tarefa inclui o ex-prodígio Joseph Gordon-Levitt, a insossa Ellen Page e Tom Hardy. Na outra ponta do ringue, a presença sempre iluminada da musa Marion Cottilard, que interpreta Mal (sem trocadilho com a palavra maldade), ex-esposa de Cobb que habita sua mente até hoje.





Em níveis e mais níves do subconsciente, Cobb constrói e destrói mundos, do mesmo jeito que acontece na cabeça de qualquer um: prédios explodem sem motivo, o céu troca de lugar com a terra, acidentes e catástrofes permeiam os labirintos da mente. Com fotografia e direção de arte surreais, A origem é um espetáculo visual para ninguém botar defeito. O roteiro, também original de Nolan, por vezes difícil de se acompanhar no princípio, começa, não me pergunte o porquê, a fazer todo o sentido conforme a produção se adianta.





Tal e qual em Amnésia, lá nos anos da minha adolescência, A origem conseguiu me deixar daquele jeito que eu bem gosto: completamente extasiado depois da projeção. As vezes até parece que escuto Non, je ne regrette rien tocando bem baixinho na rua. Aí eu esfrego os olhos, me recomponho e tento seguir meu rumo. (Não entendeu esse finalzinho poético? Então saia correndo para o cinema).





A ORIGEM
(Inception, EUA, 2010). De Christopher Nolan. Com Leonardo DiCaprio, Ken Watanabe, Joseph Gordon-Levitt, Cillian Murphy, Marion Cotillard, Tom Hardy, Ellen Page e Michael Caine.
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