Volta ao mundo em 5 séries

A gente sabe, mas não custa repetir: o mundo é bem maior do que Massachusetts. Digo isso porque às vezes ficamos tão presos às narrativas produzidas nos Estados Unidos e esquecemos que o resto do mundo também produz ótimas séries. Assisti algumas desse calibre recentemente e fiz essa listinha camarada para vocês.

Numa época em que a gente ainda deve, se possível, ficar em casa, dá para matar a saudade de viajar pelo mundo sem medo na telinha dos streamings.

Borgen
Dinamarca
Netflix

Por uma jogada política além da minha parca compreensão, Birgitte Nyborg (Sidse Babett Knudsen), do Partido Moderado dinamarquês, torna-se primeira-ministra do país, pioneira do sexo feminino no cargo. Em três temporadas a série mostra a difícil tarefa dela em comandar o país enquanto consolida a carreira com as vidas pessoal e familiar.

Produzida entre 2010 e 2013, Borgen, um House of Cards de gente finíssima, virou sensação mundial quando entrou no catálogo da Netflix anos depois. Pudera. É inteligente, fácil de acompanhar e um programão. Mas confesso: dá vontade de chorar ao perceber que os maiores escândalos da política dinamarquesa correspondem a apenas meia hora do dia a dia brasileiro.

A quarta temporada está a caminho, estreia ano que vem.

Paquita Salas
Espanha
Netflix

Quando me apaixonei por Veneno, uma das melhores produções que já assisti e cuja resenha publiquei aqui recentemente, fiquei tão impressionado que corri atrás de outros trabalhos dos criadores, Javier Calvo e Javier Ambrossi. Descobri essa série, com a assinatura deles, na Netflix, uma bela surpresa. Assumidamente cômica e com muito nonsense, Paquita Salas já dá o tom do que eles também apresentariam algum tempo depois na minissérie da HBO Max: a mistura de humor com boas pitadas de drama.

Vamos ao mote: filmada em formato mockumentary, tipo The Office e Modern Family, o programa segue uma agente de atores do time B (Brays Efe) que luta para emplacar a si mesma e aos clientes no competitivo mundo do entretenimento.

Roteiro preciso, temporadas enxutas (são três até agora, cada uma de cinco episódios) e com ótimos atores (em especial a Magüi de Belén Cuesta e a hilária Noemí de Yolanda Ramos), Paquita Salas também é um ótimo programa para quem ama a Espanha: de vez em quando a gente vê a Gran Vía ou ainda aquelas cidadezinhas bem charmosas do interior (Navarrete).

Tehran
Irã
Apple TV+

Dizem que a gente não deve julgar o livro pela capa, mas com essa série eu fiz o contrário: gostei tanto do cartaz que dei uma chance sem nem saber do que se tratava. Felizmente deu certo. Tamar (Niv Sultan) é uma agente da Mossad, o serviço secreto israelense, enviada a Teerã, capital do Irã, para hackear um sistema complicadíssimo aí.

Mas a missão começa a dar errado por n motivos e ela se vê perseguida por um alto oficial iraniano (Shaun Toub), despistando a família~, que não sabe sua verdadeira profissão, envolvendo-se com um cara da pesada aliado a amigos complicados, tudo isso culminando, ainda bem, em tiros e pontapés diversos nas empolgantes cenas de ação.

A segunda temporada chega em breve com a presença de Glenn Close.

Filhas de Eva
Brasil (Rio de Janeiro)
Globoplay

Para quem acompanha novela desde sempre, as tramas ambientadas no Rio de Janeiro não são novidade nenhuma. Mas depois de um ano e cacetada em casa, a saudade que eu tô da Cidade Maravilhosa é tanta que me contento em vê-la nem que seja nos episódios dessa série nacional acima da média.


Acompanhamos três mulheres em busca de autonomia em alguma área da vida. Stella, vivida por Renata Sorrah, decide deixar o marido após um casamento aparentemente feliz de 50 anos. Lívia (Giovanna Antonelli), filha dela, casada com um sangue-suga (Dan Stulbach), também transforma sua trajetória quando o marido começa a traí-la com Cleo (Vanessa Giácomo), mulher batalhadora que se apaixonou pelo homem errado.

Trabalho com cara de série mesmo, não de novela, algo ainda raro nas produções originais nacionais. Bem gostoso de assistir.

Manhãs de Setembro
Brasil (São Paulo)
Amazon Prime Video

Se Filhas de Eva mostra um Rio que a gente já conhece, Manhãs de Setembro explora aquela São Paulo pouco retratada na dramaturgia, a do centro barulhento, dos estacionamentos escuros, ruas grafitadas, lugares meio perigosos e absolutamente real.

Ali se passa a história de Cassandra, interpretada por Liniker em sua estreia como protagonista, motogirl trans que tem a vida balançada ao receber a visita da ex, a sempre ótima Karine Teles, e de filho ainda criança que nem sabia que tinha (Gustavo Coelho).

Manhãs de Setembro não herdou apenas o título da mais famosa canção de Vanusa: a presença da cantora, falecida ano passado, é constante, seja nas músicas da trilha quanto na voz da consciência de Cassandra (na voz de Elisa Lucinda), mais um motivo para assistir à produção.

Créditos das imagens: Melhores Destinos, IMDb e Adoro Cinema.

Jornalistas negros recomendam livros, músicas e filmes



Maíra de Deus Brito, além de jornalista, é Mestra e Doutoranda em Direitos Humanos e Cidadania pela Universidade de Brasília (UnB). Em 2018 lançou o livro Não. Ele não está. A obra apresenta histórias de mães negras que perderam os filhos, também negros e periféricos, de maneira brutal. A obra ainda discorre sobre temas correlatos e importantíssimos, por exemplo a necropolítica.




Quarto de despejo
Carolina Maria de Jesus





Um clássico que o Brasil demorou muito tempo para descobrir. A autora foi uma mulher favelada que impressionou o país na década de 1960 por escrever tão bem e ter tão pouca escolaridade.


Ela traz nesses escritos do Quarto de despejo o dia a a dia assustador que é morar numa favela, no meio do lixo, à margem de um Estado que não tá nem aí para gente preta e pobre.


Livro muito importante, traduzido para várias línguas. Mas só a partir dos últimos cinco anos o nosso país resolveu olhar para a Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977).




Becos da memória
Conceição Evaristo





Outra mulher negra, extremamente importante, que está viva. Apesar de ser uma ficção, este é um romance com muitos elementos reais. Ela fala de preconceito, de fome, de miséria, da sociedade brasileira… porque é importante a gente lembrar que no Brasil a pobreza tem cor. E ela mostra um pouco disso nessa obra.




Meio sol amarelo
Chimamanda Ngozi Adichie





Essa autora nigeriana é muito conhecida pelo livro Americanah, que também é brilhante. Essa outro dela, Meio sol amarelo, é extremamente doloroso, não é fácil de ler, mas muito bonito e potente.


Trata sobre uma guerra ocorrida na Nigéria, país de origem da Chimamanda, narrando a transformação desse território e das pessoas que moram nele. Baseado em fatos reais, a trama, que tem uma história de amor no meio, mostra muito como o caos coletivo acaba chegando no caos individual.




Eu, Tituba, bruxa negra de Salem
Maryse Condé





Autora brilhante, nasceu em Guadalupe, um dos territórios coloniais da França no Caribe. A Maryse narra a história dessa mulher negra que foi vista como bruxa. Só que na verdade a gente descobre que essa personagem, que não seguia os padrões, estava na verdade conectada com a natureza, sobretudo com sua ancestralidade.


Muitas de nós, mulheres negras, de religião de matriz africana, hoje seríamos consideradas bruxas, como foi a Tituba.




O corpo encantado das ruas
Luiz Antonio Simas





Minha última indicação é o livro de um homem branco de quem eu sou muito fã. O Luiz Antônio Simas é do Rio de Janeiro, mora na Tijuca, professor de História, escreve super bem, e é Ogã, cargo importante nos terreiros.


O trabalho dele versa muito sobre futebol, religiões de matriz africana. A rua é um outro tema, inclusive aqui, em que ele as observa com bastante cuidado. O Luiz fala da macumba que tá na encruzilhada, da devoção de São Jorge, sobretudo dos cariocas, das festas, da comida, da música, do samba.


Tem um trechinho que eu acho muito bacana: “Soltar pipa, jogar porrinha, fazer churrasco na esquina, sambar, jogar futebol, ir à missa, bater palma no terreiro, macerar plantas que curam, benzer quebranto, intuir as chuvas, lembrar os mortos, ler os livros, desfilar na avenida, temperar o feijão são formas de construir sociabilidades mundanas capazes de dar sentido à vida e reverenciar o tempo, instaurar a humanidade no meio da furiosa desumanização que nos assalta”.











Gabriela de Almeida é figura conhecida no cenário jornalístico brasiliense, principalmente no meio gastronômico, uma de suas paixões, ou ainda no cultural, onde começou ainda estagiária. Atualmente, estuda a mídia desbravando o novo, e perigoso, território das notícias falsas na internet, conhecidas pelo jargão “fake news”.




Você sabia que cada clique que você dá em uma música do seu artista favorito em seu canal oficial de streaming você faz com que ele receba uma grana por isso?


Em tempos de pandemia, com as agendas culturais – presenciais, cabe lembrar – paradas, poucos são os que conseguem se desenrolar financeiramente.


Valorize o seu artista favorito, dê play nas músicas deles, escute novamente álbuns antigos e abra o seu coração para novas sonoridades. Vou falar sobre cantores e cantoras negras incríveis que estão esperando seus cliques por aí.


De um som pop, recomendo Bia Ferreira, cuja música Cota não é esmola viralizou, é muito boa para esse momento, forte e significativa. Mahmundi é um tipo de som que curto demais. E também Luedji Luna.












No samba, duas cantoras de Brasília eu escuto sempre, Cris Pereira e Teresa Lopes. E também não pode faltar Teresa Cristina.












Das novidades, destaco que a Alcione, que lançou um disco agora em plena pandemia, Tijolo por tijolo, e o Jorge Aragão, que tem live em 19 de junho, saiu com a música Ninguém vale dor e despedida.









Ainda tem o Emicida, sempre importante, com falas muito políticas. Precisamos colocar ele num lugar de atenção, acompanhá-lo nas redes sociais… Aliás, todos os que citei.


Acho importante destacar que nos tempos atuais a arte e a política não se separam. Quem não se compromete não tem mais como viver artisticamente nesse país diante de tudo o que estamos vivendo.













Edson Caldeira ama músicas, filmes e estrelas de antigamente, sem nunca deixar de estar atento ao que há de mais novo. Com referências que vão de Dorothy Dandridge a Beyoncé, ele transita entre o ontem e o hoje, mas sempre de olho no amanhã. Criou em 2018 o site Edson Caldeira.com, em que atua também como editor-chefe. Trabalha ainda, com o talento que lhe é habitual, de maquiador.




Quando as nuvens passam1946
(Till the clouds roll by)





Filme produzido pela MGM para homenagear o compositor Jerome Kern, referência quando se fala da música do século XX. Na obra, a constelação de estrelas do estúdio se divide para contar a história do artista entre cenários suntuosos e muitas canções.


Lena Horne interpreta Julie LaVerne cantando Can’t help lovin’ dat man e Why was I born. No primeiro segmento da fita, a atriz divide os holofotes com Caleb Peterson, outro ator negro. Em um contraste com a suavidade vocal de Lena, Peterson solta a voz grave e aveludada na canção Ol’ man river, que narra a triste e injusta história de opressão dos trabalhadores afro-americanos.


Frank Sinatra canta a mesma canção ao final do filme e muitos atribuem isso à censura da época. Lugares como Memphis, no Tennessee, cortaram a participação de Lena Horne porque a união de brancos e negros em um filme ia contra “a moral e o bem-estar da cidade”.




Carmen Jones1954





Tem seu valor histórico por ser o primeiro filme mainstream a ter elenco totalmente negro. Baseada na ópera de Bizet, a história trágica mistura dramaticidade e bom-humor numa produção opulenta dirigida por Otto Preminger.


Apesar de todos os atores merecerem honrarias, Dorothy Dandridge, que interpreta a protagonista, certamente tem destaque por esbanjar sensualidade, energia e talento descomunal. Pelo papel, tornou-se a primeira afro-americana a ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz.




O ocaso de uma estrela1972
(Lady sings the blues)





Inspirado na vida e obra de Billie Holiday, foi especialmente produzido para Diana Ross. Não sem controvérsias. Assim que foi anunciado, o filme já recebeu críticas pelas características supostamente destoantes entre a eterna Supreme e a voz mais consagrada do blues.


Entretanto, a película provou que Diana Ross não só era uma cantora fantástica, também revelara-se uma atriz promissora e idealizadora caprichosa. Os palpites da estrela sobre o guarda-roupa fizeram gravadora Motown, uma das encarregadas da produção, gastar uma nota.


Um dos fatores que torna o filme memorável é o desprendimento de Diana em mostrar uma cópia barata de Billie. Ao explorar o personagem à sua maneira ela ganhou aplausos dos críticos e, de quebra, uma indicação ao Oscar.




As barreiras do amor1992
(Love field)





Michelle Pfeiffer interpreta Lurene Hallett, dona de casa texana que idolatra Jacqueline Kennedy. Quando o presidente é assassinado, ela se solidariza com a dor da primeira-dama. Decide ir ao funeral em Washington. Presa em um casamento abusivo, a protagonista “desobedece” o marido, embarcando num ônibus para prestar suas condolências.


No caminho, conhece Paul Cater (Dennis Haysbert) e a filha pequena dele. Convencida pelo próprio preconceito de que o homem está sequestrando a menina, ela rapidamente percebe o engano. A partir daí a produção passa a contextualizar na narrativa racismo e movimento dos direitos civis no início dos anos 1960. Tudo isso com uma dose de romance sem afetação, o que deixa o filme ainda mais emocionante.




Dorothy Dandridge – O brilho de uma estrela1999
(Introducing Dorothy Dandridge)





A musa Dorothy Dandridge, protagonista do já citado Carmen Jones, é tema de cinebiografia extremamente intensa e reveladora, estrelada por Halle Berry. O filme narra a história trágica da estrela e o racismo na década de 1950. Em uma das cenas mais revoltantes, Dorothy, capa da renomada revista Life, não tem permissão para nadar em uma piscina de hotel em Las Vegas.


A trajetória da atriz possui questões delicadas e complexas, como o abuso sexual cometido pela amante da mãe e a morte por overdose aos 42 anos. No entanto, a produção mostra de modo responsável e digna como Dorothy recusou-se a desempenhar papéis estereotipados, além de como suas contribuições abriram as portas da inclusão para outros artistas negros.







Crédito das imagens: Janine Moraes, Amazon, EBC, Itaú Cultural, Saraiva, Medium, Twitter, Kobo, Revista Ópera, Divulgação, Bruno Pimentel, IMDb, Reelgood e House Creek Entertainment.

Loz Engelis Records – Mixtape “Carioca”

Rio de Janeiro

Me arrisquei recentemente na minha primeira mixtape online no Blogazine, site do meu querido amigo Bruno Santos para o qual eu colaboro de vez em quando. Gostei do resultado. Inspirado por uma ótima temporada que passei no Rio de Janeiro há pouco tempo, resolvi investir na segunda, a estreia do selo Loz Engelis Records. Assim como a seleção que fiz para o Blogazine, focada nas mulheres, essa também tem no vozeirão feminino o seu norte.


Em Carioca eu misturei Madonna, Bebel Gilberto, All Saints, Blondie, Baby Consuelo e até Mulher Filé no caldeirão. Tem rock, funk, pop e MPB pra ninguém botar defeito. Se joga no Rayito de Sol.









TRACKLIST:


Marina Lima – Uma noite e meia
Ace of Base – Cruel summer
Bebel Gilberto – So nice (Summer samba)
Hole – Malibu
Baby Consuelo – Telúrica
Playahitty – The summer is magic
Maysa – O barquinho
Blondie – The tide is high
The B’52’s – Private Idaho
Mulher Filé – Tá calor tá quente (feat. Don)
All Saints – Pure shores
Madonna – La isla bonita (Extended Remix)